Aprigio Fonseca e Frederico Fonseca

Eckhout Blackout - Aprigio Fonseca - 2019

Eckhout Blackout

No ano de 1980, enquanto trabalhava na série sobre o assassinato de Padre Henrique, assessor de Dom Hélder Câmara, pintei de preto uma bandeira de Pernambuco para ser colocada no chão, e servir de tapete para os visitantes pisarem.

Ao mesmo tempo, estudando os pintores que vieram a Pernambuco no período de Nassau, li que muitas das obras de Frans Post, Albert Eckhout e outros, não foram realizadas aqui, mas apenas quando retornaram à Europa. Como estes artistas vieram com a missão principal de documentar assuntos característicos do nosso país (paisagens, fauna, flora, tipos humanos, etc.) e tinham a escola naturalista como estilo, me surpreendi, pois, de certa forma, artificializaram suas pinturas, principalmente as cores da paleta. Uma coisa é pintar o ambiente com a luminosidade original, e outra é deslocar geograficamente tal fazer. Mesmo no caso de Eckhout, que pintou muitos assuntos em ambientes "cenográficos", como as naturezas-mortas, a luminosidade das cores dos elementos constitutivos, foram "apagadas".

Relacionei, então, esse "apagamento" pictórico dos pintores holandeses, ao apagamento da vida de Padre Henrique, idealizando naturezas-mortas com seus elementos pintados de preto, como tinha feito com a bandeira de Pernambuco. Fiz alguns estudos em desenhos, mas nenhuma pintura, e a série não foi realizada.

Só ao reencontrar em 2019, o único estudo a lápis que restou das sucessivas mudanças de ateliês, resolvi realizar a série, não mais em pinturas, mas com fotografias. Criei naturezas-mortas sobre um fundo infinito preto, pintei alguns dos objetos e deixei outros com a cor natural.


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